domingo, 6 de fevereiro de 2011

A Exposição

"É pau é pedra
É o fim do caminho
É um resto de toco
É um pouco sozinho...
É um caco de vidro
É a vida é o sol
É a noite é a morte
É um laço é o anzol..."
Elis Regina e Tom Jobim - Águas de Março

Todas as exposições possuem recortes culturais e históricos, e eles são necessários. A seleção das obras foi extremamente pessoal, tendo como recorte o meu olhar e os meus pensamentos sobre as obras. E examente por isso, essa exposição se pretende uma brincadeira com o olhar, assim como a música de Elis e Tom que desenvolve a mistura e a junção de coisas, que nos envolve em um mundo de experimentações. Para tal escolhi o local em que estudantes, professores, comunidade e funcionários da UnB passam horas, vivem, caminham,  compartilham, sentem: a Faculdade da Ciência da Informação. As obras serão colocadas de maneira a contrapor o concreto às cores, o movimento e forma das pinturas, esculturas, objetos e instalações. Sendo que os sujeitos estariam inseridos como parte das obras, observando e captando aquilo que os convém. É uma exposição livre de academicismo, que busca apenas o olhar...a observação rápida, lenta, dinâmica. 

Interpretação (minha) das Obras

A primeira impressão que tive ao conhecer as obras de Matias Monteiro foi sobre a infância, que em alguns trabalhos parece bem destacada, marcante, como se eu espectadora/sujeito/pessoa fosse de encontro ao que já vivi e pudesse traçar um paralelo com minha realidade atual. O trabalho do artista me parece ter aquela ingenuidade que todos dizem que a criança tem, mas criança não é ingênua, é esperta e é perspicaz com a criatividade. Sabe aquela criança que sabe sobre o mundo todo? E que tem tanta coisa para pensar e dizer? Esse mundo já nos pertenceu, já fomos crianças e me parece que perdemos algo ou deixamos adormecido.

Disposição das obras no espaço (FCI)

"Um ceú que lhe convém" será montado na escada em espiral até o teto da Faculdade, para que o movimento das nuvens seja contínuo.
"outono das verdades" estará entre os jardins de inverno, como uma brincadeira entre as plantas disponíveis no local.
"Auto-Paisagem (como casa)" será montado no meio da grande parede de concreto até o teto.
"Zootropia" estará na parede de concreto ao lado da sala de aula do aquário. 
"som de estrelas sobre águas internacionais" será colocado entre a escada espiral e as escadas da entrada da Faculdade.
A série branca e a série de pinturas estarão em uma parede branca construída entre o auditório e o jardim perto das salas de aula do aquário. E por fim, o vídeo estará perto da escada principal e dos laboratórios onde os alunos acessam a internet.

Alguns trechos da entrevista com o artista serão dispostos ao redor das obras e do espaço, nas paredes e no chão. Será utilizada a iluminação natural do prédio, e as obras que possuem luzes estarão ligadas em tempo integral, sendo que a visulização destas será melhor aproveitada no turno noturno. Também será utilizada uma parede branca para contar a trajetória do artista e a idéia da exposição.

Título da Exposição
 Epifanias Contemporâneas
Texto da Exposição

 Ao olhar encontramos vozes, pessoas, lugares, sensações e por vezes nos perdemos. Estamos entre nossos julgamentos da realidade sem nos dá conta que deixamos a imaginação contar a história, e é exatamente ali onde reside nossa memória. A pluralidade está em todos os cantos, em todas as portas, em todas as janelas, em todas as escadas, em todas as paredes, em todas as pessoas, e então uma ocupação de sabores e gestos perpetuam o que somos e por onde andamos. As obras selecionadas dialogam com a criatividade, a infância, o mundo, o tempo, a vida, ou seja, com nossas vivências. Por isso e por mais entre, a exposição "Epifanias Contemporâneas" busca o seu olhar, sem pretensão de lhe dizer o que e por que é arte.

Sobre a Exposição 
A escolha dessa exposição é não esquecer, é não silenciar qualquer pessoa... deixar essa pessoa ser quem ela é no espaço, mesmo que ela desconheça ou não tenha alguma afinidade com arte contemporânea. Eu diria que seriam experimentações, que as pessoas teriam liberdade de dizer e sentir o que pensam sobre as obras e o espaço. Deixar que essas pessoas dialoguem com o momento presente, que criem interpretações sobre as obras, afinal os objetos não falam por si só e muito menos o artista controla esse processo, seria o que Barthes fala sobre "A morte do autor".

"um texto é feito de escrituras múltiplas, oriundas de várias culturas e que entram umas com as outras em diálogo, em paródia, em contestação; mas há um lugar onde essa multiplicidade se reune, e esse lugar não é o autor, como se disse até o presente, é o leitor... ele é apenas esse alguém que mantém reunidos em um único campo todos os traços de que é constituído o escrito" (BARTHES, 1984, p. 70)

Sobre o momento presente...

"Respire, respire. Conte até dez, até vinte talvez. Daqui a pouco ele vai começar a se transformar em outra coisa, o momento presente. Qualquer coisa inteiramente imprevísivel? Você não sabe, eu não sei , ele não sabe: os momentos presentes não tem o controle sobre si mesmos. Se o telefone tocar, atenda. Se a campainha chamar, abra a porta. Quando estiver desocupada outra vez, procure-o novamente com os olhos. Ele já não estará lá. Haverá outro em seu lugar. E então, como a um bebê ou a um cristal, tome-o nas mãos com muito cuidado. Ele pode quebrar, o momento presente. Experimente então dizer 'eu te amo'. Ou qualquer coisa assim, para ninguém." Caio F. Abreu, 1987.

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